SPEAKERS' CORNER, NO HYDE PARK


Muito antes do Twitter e do Facebook, quem quisesse expressar uma opinião, criticar uma instituição ou simplesmente lançar uma polêmica em Londres já contava com uma plataforma bem prática ao seu dispor: simplesmente subia num banquinho na esquina do Hyde Park conhecida como Speakers' Corner e soltava o verbo. O local, inaugurado em 1872 e que funciona até hoje, é um espaço super democrático. Por lá passam pessoas de todas as fés e ideologias: nacionalistas, vegetarianos, comunistas, feministas, religiosos, pacifistas. Cada um defendendo o seu ponto de vista ; é o direito ao free speech.

Mas por que eles têm que subir num banquinho? Bem, segundo a tradição britânica, o orador pode fazer discursos criticando qualquer um, com exceção da Família Real e do governo inglês, contanto que nao esteja pisando em solo inglês. O banquinho pode ser substituído por um caixote ou uma escadinha - o que importanta é o orador estar acima do solo. 

Que tradição mais peculiar né? Bem ao estilo do país. Claro que muita gente que passa pelo parque ára para ouvir quem está pregando. E é claro que, eventualmente, alguns doidinhos aparecem por lá...

O espírito todo peculiar do Speakers' Corner é capturado no delicioso livro do fotojornalista Philip Wolmuth, que mostra fotos e fragmentos de muitos dos discursos proferidos ao longo de 35 anos. O livro, que se chama simplesmente Speakers' Corner, foi lançado no último mês no Reino Unido 

A foto do início do post é do livro de Wolmuth e foi publicada pelo jornal The Guardian

FACULDADE FABRICA POLÍTICOS NA INGLATERRA ?

Você sabe o que os dois candidatos ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido nas últimas eleições tinham em comum? Ambos fizeram o mesmo curso: o prestigioso Politics, Philosophy and Economics, da Universidade de OxfordSegundo a mídia, o curso - conhecido como PPE -  é passaporte certo para os corredores do poder em Londres. Além de David Cameron ( primeiro-ministro que acabou de ser  reeleito) e Ed Milliband (o candidato derrotado do Partido Trabalhista), vários outros ministros e políticos do primeiro escalão britânico já passaram por lá. 

O curso tem duração de três anos. Os alunos assistem de 6 a 8 palestras por semana e têm aulas com tutores em grupos bem reduzidos - de no máximo 3 pessoas. O resto do tempo trabalham individualmente - lendo muito e preparando ensaios e artigos científicos. 

Segundo Iain McLean, que foi professor no PPE de 1978 to 1991, o curso se destaca por ser interdisciplinar e encorajar o pensamento reflexivo dos seus alunos, por meio de um método de ensino semelhante ao padrão Socrático.

Mas dizem as más-línguas que o que o curso faz é formar generalistas, que apenas forjam um conhecimento sobre uma série de assuntos; que absolutamente não conhecem nada profundamente. Crítica pesada né?  Mas essa argumentação parte até mesmo de alguns ex-alunos, que garantem que o curso é muito flexível, que muitos estudantes conseguem escapar da maioria das palestras e aulas e que se concentram apenas em entregar os trabalhos em dia. 

O único consenso parece ser que muitos dos alunos do PPE são extremamente ambiciosos mesmo e que escolheram o curso justamente porque representa um trampolim certo para uma carreira na política ou na mídia (muitos editores da BBC e do jornal The Times são ex-alunos). 




LIVERPOOL : HOMENAGEM ÀS VITIMAS DA GUERRA


A igreja St Luke's, em Liverpool, está prestando uma homenagem muito comovente aos moradores da cidade que foram vítimas do intenso bombardeio alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Do lado de fora da igreja foram colocados painéis que mostram fotos antigas da destruição causada pelas bombas na cidade e também listas com nomes dos cerca de 4 mil moradores de Liverpool mortos durante o ataque. 


Close de uma das fotos que mostram a destruição em Liverpool depois
de intenso bombardeio durante Segunda Guerra Mundial
Destruição no quintal de casa em Liverpool
Liverpool sofreu intenso bombardeio durante a Guerra


Lista dos mortos da cidade, vítimas do bombardeio alemão

A própria igreja foi bombardeada durante a Guerra - seu telhado, vitrais e a parte de dentro foram totalmente destruídas. Mas, significamente, as paredes da igreja permaneceram de pé. No final da guerra, a cidade decidiu não reconstruir a igreja e deixá-la dessa maneira, só com as paredes. Ou seja: a igreja - que é conhecida por todos os moradores da cidade como a “Bomb Out Church”, que significa igreja bombardeada - funciona como uma lembrança, uma homenagem às vitimas da guerra. Hoje em dia há um jardinzinho lá dentro, onde acontecem pequenos eventos culturais aí dentro - como cinema ao ar livre

PRIMAVERA EM LIVERPOOL



Dia de sol é um bem precioso aqui em Liverpool. Por isso, quando faz um calorzinho e céu azul, todo mundo corre para rua para aproveitar o tempo camarada de alguma maneira. Muita gente usa a hora do almoço para jogar tênis no meio da rua - em quadras improvisadas montadas pela Prefeitura no centro da cidade. Outro dia vi esse executivo, de terno e gravata, jogando uma partida rápida ao meio-dia, para descontrair e aproveitar o solzinho.

Outra turma escolheu o  pingue pongue para relaxar - também na rua. Repare que nas fotos ninguém está vestindo camiseta ou short - a primavera na Inglaterra ainda faz friozinho; mas qualquer sinal de elevação no termômetro já é motivo de alegria !



Já a criançada se diverte para valer nas fontes  - se molham à vontade e morrem de rir com tudo !


Os músicos de rua estão em cada esquina, geralmente tocando antigos sucessos dos Beatles. O verão ainda não chegou, mas já estamos sentindo o gostinho...


TRÊS RAINHAS VISITAM LIVERPOOL


Na última semana, assisti a um espetáculo absolutamente espetacular da janela do meu apartamento. Tive o privilégio de acompanhar a passagem de três rainhas  - Queen Elizabeth, Queen Victoria e Queen Mary 2 - navios transatlânticos belíssimos que desfilaram pelo rio Mersey, que banha Liverpool, como mostra essa foto que tirei. O evento, que atraiu milhares de pessoas à orla,  comemorou o 175 o aniversário da Cunard Lines, companhia que construiu as embarcaçōes. 


A grandiodidade das embarcaçoes atraiu multidōes
Os navios desfilaram e se movimentaram juntos e harmonicamente pelo rio - como se estivessem dançando ! Para saudar as três rainhas, o grupamento de acrobacia aérea da Força Aérea Britânica, - chamado de Red Arrows (Flechas Vermelhas) cruzou o céu. Foi realmente lindo; veja mais fotos aqui.  


Saudação no céu às três rainhas britânicas. Crédito: Liverpool Echo 



Luxo nas cabines. Crédito: Liverpool Echo
O mais imponente dos três navios é o Queen Mary 2 - o maior transatlântico do mundo. O navio tem 345 m de de comprimento e 41 metros de largura, acomodando 3090 passageiros, e 1238 membros da tripulação. 

Além das acomodaçōes luxuosas, como mostra a foto ao lado, do jornal Liverpool Echo, o Queen Mary 2 oferece a maior livraria, o maior salão de dança, a maior pista de corrida e o maior planetário (isso mesmo planetário !) montados dentro de um navio !

Todo esse luxo tem um preço, ė claro. As passagens são caríssimas e o navio, lançado em 2004, custou 550 milhoes de libras ! 

E para que a festa das três rainhas marítimas desse certo, o evento foi planejado durante dois anos. O desfile em grupo das três embarcaçōes, por exemplo, foi ensaiado exaustivamente por meio de computadores. E além disso, houve queima de fogos à noite, em frente aos navios (lá estava eu na janela da minha sala para tirar essa foto para vocês kkkk).

Ainda da janela do meu apartamento: fogos saudam as rainhas !
E  até o prédio mais famoso da cidade - o Liver Building - participou da festa, se enfeitando num show de luzes espetacular - tudo para saudar as rainhas !
Show de luzes no Liver Building em homenagem aos navios. Credito: Liverpool Echo





E QUANDO PINTA A SAUDADE DO BRASIL?


Ah, quando a saudade do Brasil aperta eu tenho uma solução infalível : eu recorro ao que os ingleses chamam de comfort food - aquelas comidinhas que remetem à infância e a momentos felizes, e que nos dão uma sensação de segurança. 

Ou seja: eu faço pão-de-queijo - guloseima bem brasileirinha e deliciosa !


O maridão inglês é o chef do pão de queijo !!!

Como é meio complicado de encontrar polvilho doce e salgado por aqui em Liverpool ( em Londres eu acho que é mais fácil), eu recorro a uma massa pronta. 

A massa eu compro num supermercado de produtos internacionais -  que vende ingredientes para preparar receitas indianas, japonesas, espanholas e .... brasileiras !

Ah, tá bom, comprar massa pronta é meio fake, mas o pão de queijo fica super gostoso ! 

Na verdade, tenho que confessar que é o maridão inglês que faz o pão-de-queijo. Ele, que é o chef aqui de casa, também adora !

CULINÁRIA NA INGLATERRA VAI TE SURPREENDER !

Eu sei que muita gente ainda acredita que a culinária britânica é sem graça e insossa; mas eu tenho que discordar. Essa idéia é coisa do passado - hoje em dia há muitos chefs comprometidos em oferecer pratos tradicionais do país com muito sabor; ou ainda profissionais de outros países - especialmente da India, França e Itália - oferecendo uma gastronomia moderna e criativa nos seus restaurantes na Inglaterra.

É claro que o tradicional fish and chips ainda faz muito sucesso, mas cordeiro, salmão, massas e currys têm sempre lugar de destaque nos cardápios dos restaurantes mais badalados. Para mostrar para vocês que não estou exagerando, tirei algumas fotos de pratos que experimentei nos últimos meses e mostro eles aqui para vocês. Garanto: estavam todos deliciosos! 


Adorei esse prato : cordeiro - tipo de carne que os ingleses adoram -
com maçãs caramelizadas


Olha a gastronomia italiana na Inglaterra batendo um bolão: pappardelle com lagosta
Light e delicioso: salmão com croquetes recheados de ricotta e legumes

ESTUDANTES ELEGEM PALAVRAS MAIS DIFÍCEIS DE PRONUNCIAR EM INGLÊS


Está achando que é só você que enrola a língua quando tenta pronunciar certas palavras em inglês? Que nada, você não está sozinho !! Recente pesquisa da plataforma online Reddit revelou as palavras que mais atemorizam estudantes de inglês de diferentes nacionalidades. Selecionei algumas delas:

Sixth (significa sexto, em português). Ô palavrinha chata de se pronunciar. Para o  brasileiro, então, nem se fala... Pronunciar o TH é complicado - muita gente se enrola na pronúncia de think (pensar) ou theatre (teatro), não é mesmo? Por que a dificuldade? Porque esse som TH não existe em português. Muitos estudantes pronunciam o TH como se fosse D ou F,  mas não é correto; tem que fazer aquele truque de colocar a língua entre os dentes e soprar...

No caso da palavra sixth tudo se complica porque o TH se localiza no final da palavra e  sixth começa com a letra 'S'. 



Rural (que significa a mesma coisa em português: rural). A letra R é outra constante dificuldade para os brasileiros. Muita gente identifica o R em inglês como um R caipira. E repetir esse som caipira pode ser bem difícil (ru-ral). 

Quer ver a coisa complicar ainda mais ? Se a palavra a seguir apresentar sons semelhantes. Por exemplo, tente dizer : "I want to be a juror on a rural brewery robbery case.” ( algo como : "Eu quero ser membro do juri no caso do roubo na cervejaria rural"). Essa frase é o que os linguistas chamam de trava-língua (tongue twister).

Choir (coral, em português)Essa palavra fazia parte da minha lista pessoal ; sempre tinha que pensar antes de pronunciar choir. Para meus neurônios brasileiros, não fazia muito sentido. Mas descobri um truque - é a mesma pronuncia da palavra 'enquire', mas sem o EN

Edinburgh (o nome da capital da Escócia). Esqueça a complicação do sufixo 'urgh' e pronuncie Edinbra. E pronto !
  
E você, qual a palavra da língua inglesa que você se enrola em pronunciar?

GUERRA DO BEM ENTRE POLÍTICOS INGLESES


Quem será que vence o cabo de guerra  da foto acima? De um lado, representantes dHouse of Commons (que funciona como a Câmara de Deputados no Brasil). Do outro, membros dHouse of Lords (que tem uma função mais ou menos parecida com o Senado brasileiro). O confronto é do bem e faz parte de um evento beneficente cuja renda é revertida em favor da pesquisa contra o cancer. 

A competição vai acontecer no dia 2 do mês - dia da abertura oficial do Parlamento. Os parlamentares das duas Casas se confrontam bem em frente ao Palácio de Westminster - sede do Parlamento. O clima é de brincadeira, a luta é simbólica, mas os políticos fazem força de verdade. Ninguém quer fazer feio mesmo sendo uma brincadeira, né?

A competição, que mistura homens e mulheres, está no seu 26 o ano, e inclui coquetel, jantar e champagne para os participantes no jardim do Palácio.

A foto acima está no site da MacMilliam, organização que promove a festa e desenvolve uma série de atividades e campanhas para para ajudar vítimas da doença.  

ROTEIRO BÁSICO EM MANCHESTER


Eu e o Mike visitamos Manchester semana passada. Terceira maior cidade da Inglaterra - atrás apenas de Londres e Birmingham - Manchester é muito conhecida pelos brasileiros por causa do futebol. A cidade é sede de dois dos mais famosos times de futebol do país:  o Manchester United e o Manchester City. 

Mas, historicamente, a importância da cidade é de outra natureza: Manchester foi palco central da Revolução Industrial na Inglaterra. A cidade, localizada no noroeste do país, cresceu muito durante o reinado da rainha Victoria (1837-1901), quando conheceu um espetacular desenvolvimento da sua indústria têxtil. Nessa época houve um enorme boom de migrantes; pessoas de várias partes do país e também da Escócia e Irlanda chegaram à Manchester atraídos pelas oportunidades de trabalho. 

Até hoje Manchester é um caldeirão cultural - além do enorme número de imigrantes, há milhares de estudantes estrangeiros. Para você ter uma idéia, são 153 línguas faladas na cidade! Por causa dessa diversidade cultural, um estudo classificou Manchester como uma  das cidades mais exóticas e interessantes do mundo. 

Eu e o Mike começamos nosso passeio pela cidade visitando Lowry  espetacular complexo de cultura e lazer, com galerias de arte, museus, pubs e restaurantes,  que tem uma arquitetura arrojada e moderna. 


O Centro Cultural Lowry:  arquitetura arrojada e espaço cultural com galerias de arte,  cinemas e teatro 
O centro Cultural Lowry por dentro

O espaço foi batizado em homenagem a L.S. Lowry, o mais importante artista plástico nascido na cidade. Lowry produziu algumas das mais significantes telas sobre a paisagem urbana da Inglaterra na primeira metade do século XX, retratando o dia-a-dia dos operários que trabalhavam nas fábricas na região. O visitante pode ver 400 obras de Lowry na galeria no segundo andar do prédio do centro cultural. Eu recomendo muito a visita a esse sensacional espaço cultural - 

Do centro cultural, caminhamos pelos canais construídos no século XVIII e usados para facilitar a entrada de carvão na região; eles dão à cidade um certo charme veneziano.

Atravessando os históricos canais de Manchester

Chegamos então, ao centro da cidade, onde a maioria dos prédios datam da época Vitoriana. 
Albert Square,  no centro de Manchester
Assim como em Liverpool (cidade onde eu moro), o estilo de muitos prédios públicos e comerciais construídos nessa época é o neoclássico, com suas grandiosas colunas e materiais nobres (mármore e granito) e seguindo o modelo dos templos greco-romanos e das construções do renascimento italiano. A idéia era ostentar a riqueza e o desenvolvimento da cidade através da arquitetura de prédios, como o da Biblioteca Central e o da Prefeitura.

Imponência arquitetônica da Prefeitura de Manchester
Colunas neoclássicas na Biblioteca central, no centro de Manchester
Por fim, visitamos o Manchester Art Gallery, que tem excelente acervo de obras de artistas plásticos do século XII, XIII, XIX e modernos. 

Manchester é uma cidade vale a visita por muitas outras razões: foi celeiro de inúmeras bandas de rock como Oasis, Morrisey, entre tantas outras. Vale lembrar também que nos anos 80, a cidade esteve novamente no centro das atençōes quando os trabalhadores e sindicatos da região foram foco de resistência contra a mão de ferro liberal da primeira-ministra Margaret Thatcher. 


Prédios modernos também fazem parte da arquitetura da cidade
Manchester, assim como Londres e Liverpool, também tem sua roda-gigante
Por fim, se você tiver tempo, Manchester abriga ainda museus temáticos muito interessantes, como o  Museum of Science & Industry.  E, para quem não dispensa uma tarde de consumo, a dica final é se esbaldar no Trafford Centre, segundo maior shopping do Reino Unido.